segunda-feira, 28 de setembro de 2009

III

Agora que sinto amor
Tenho interesse nos perfumes
Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro.
Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova.
Sei bem que elas cheiravam , como sei que existia.
São coisas que se sabem por fora.
Mas agora sei com a respiração da parte de trás da cabeça.
Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira.
Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver.

Fernando Pessoa

DANÇA DA SOLIDÃO

Solidão é lava que cobre tudo
Amargura em minha boca
Sorri seus dentes de chumbo
Solidão palavra cavada no coração
Resignado e mudo
No compasso da desilusão
Desilusão, desilusão
Danço eu dança você
Na dança da solidão
Camélia ficou viúva, Joana se apaixonou
Maria tentou a morte, por causa do seu amor
Meu pai sempre me dizia, meu filho tome cuidado
Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado
Quando vem a madrugada, meu pensamento vagueia
Corro os dedos na viola, contemplando a lua cheia
Apesar de tudo existe, uma fonte de água pura
Quem beber daquela água não terá mais amargura.

Paulinho da Viola

terça-feira, 22 de setembro de 2009

QUEM SABE ISSO QUER DIZER AMOR

Cheguei a tempo de te ver acordar
Eu vim correndo a frente do sol
Abri a porta e antes de entrar,revi a vida inteira
Pensei em tudo que é possível falar
Que sirva apenas para nós dois
Sinais de bem desejos vitais
Pequenos fragmentos de luz
Falar da cor dos temporais
De céu azul das flores de abril
Pensar além do bem do mal
Lembrar de coisas que ninguém viu
O mundo lá sempre a rodar
Em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor,estrada de fazer o sonho acontecer
Pensei no tempo e era tempo demais
E você olhou sorrindo pra mim
Me acenou um beijo de paz
Virou minha cabeça
Eu simplesmente não consigo parar
Lá fora o dia já clareou
Mas se você quiser transformar
O ribeirão em braço de mar
Você vai ter que encontrar
Aonde nasce a fonte do ser
E perceber meu coração
Bater mais forte só por você
O mundo lá sempre a rodar
Em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor,estrada de fazer o sonho acontecer...

Milton Nascimento

domingo, 20 de setembro de 2009

HUMILDADE

"O verme pisado encolhe-se. Atitude inteligente. Com isso reduz a probabilidade de ser pisado de novo. Na linguagem moral: humildade."

Friedrich Nietzsche

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

CANÇÃO DA DESPEDIDA

Já vou embora
Mas sei que vou voltar
Amor não chora, se eu volto é pra ficar
Amor não chora
Que a hora é de deixar
O amor de agora pra sempre ele ficar
Eu quis ficar aqui mas não podia
O meu caminho a ti não conduzia
Um rei mal coroado não queria
O amor em seu reinado
Pois sabia não ia ser amado
Amor não chora, eu volto um dia
O rei velho e cansado já morria
Perdido em seu reinado sem Maria
Quando eu me despedia
No meu canto lhe dizia

Geraldo Azevedo

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

SENTINELA

Morte, vela, sentinela sou
Do corpo desse meu irmão que já se vai
Revejo nessa hora tudo o que ocorreu
Memória não morrerá
Vulto negro em meu rumo vem
Mostrar a sua dor plantada nesse chão
Seu rosto brilha em reza, brilha em faca e flor
Histórias vem me contar
Longe, longe, ouço essa voz
Que o tempo não vai levar
Precisa gritar sua força ê irmão
Sobreviver, a morte inda não vai chegar
Se a gente na hora de unir os caminhos num só
Não fugir nem se desviar
Precisa amar sua amiga ê irmão
E relembrar que o mundo só vai se curvar
Quando o amor que em seu corpo já nasceu
Liberdade buscar na mulher que você encontar
Morte, vela, sentinela sou
Do corpo desse meu irmão que já se foi
Revejo nessa hora tudo que aprendi
Memória não morrerá
Longe, longe, ouço essa voz
Que o tempo não vai levar

Milton Nascimento / Fernando Blant

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA

Há quem diga que eu dormi de touca
Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
Que eu caí do galho e que não vi saída
Que eu morri de medo quando o pau quebrou
Há quem diga que eu não sei de nada
Que eu não sou de nada e não peço desculpas
Que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira
E que Durango Kid quase me pegou
Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar pra dar e vender
Eu, por mim, queria isso e aquilo
Um quilo mais daquilo, um grilo menos nisso
É disso que eu preciso ou não é nada disso
Eu quero todo mundo nesse carnaval...
Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar pra dar e vender.

Sérgio Sampaio

EU E A DOR

Tem dor que é pra gente carregar sozinho
E não dividir o pranto com ninguém
Por isso me deixa só nesse cantinho
Só eu sei pra minha dor o que convém
O pranto que rola tão forte no meu rosto
Você não vai entender, nem enxugar
Só eu sei de onde vem esse desgosto
Até onde essa dor vai me levar
Conheço esse mar... deixa meu barco, eu aprumo
Eu chego até lá... ô... ô... eu chego até lá
Antigas lições se fizeram pro meu mundo
Rochedo capaz de agüentar qualquer tremor
Cada guerra vencida nessa vida
Lembra o carro de boi, bom gemedor
O gosto do mel... apuro pela cabaça
Mamãe me ensinou... ô... ô... mamãe me ensinou.
Reinaldo

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

AMA O DESEJO E NÃO O DESEJADO

"Disse que suas motivações mais profundamente! Achará que jamais alguém fez algo totamente para os outros. Todas as ações são autodirigidas, todo serviço é auto-serviço, todo amor é amor-próprio. […] Parece surpreso com esse comentário? Talvez esteja pensando naqueles que ama. Cave mais profundamente e descobrirá que não ama a eles: ama isso sim as sensações agradáveis que tal amor produz em você! Ama o desejo, não o desejado.”
Quando Nietzsche chorou